
Pesquisa internacional destaca impacto da privação de sono no desempenho e bem-estar de animais atletas, com coautoria do docente Neimar Roncati
Um artigo inédito, publicado recentemente em uma revista científica internacional, lança luz sobre um tema ainda pouco explorado: a influência da privação de sono REM no desempenho de cavalos atletas. Intitulado Could restricting horses' REM sleep improve dressage performance?, o estudo contou com a participação do professor Neimar Vanderlei Roncati, gestor do curso de Medicina Veterinária do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ) e do Centro Universitário Max Planck (UniMAX Indaiatuba).
A pesquisa, desenvolvida ao longo dos últimos quatro anos, nasceu a partir de uma inquietação do grupo da Universidade de São Paulo (USP), após observarem o caso de um cavalo internado por claudicação que sofreu convulsões por fadiga extrema, por não conseguir se deitar e descansar adequadamente.
"Aquilo nos fez refletir sobre como o sono, algo essencial para qualquer espécie, ainda é negligenciado no manejo de cavalos, especialmente os de alto desempenho. Durante muito tempo houve a percepção de que os cavalos dormiam em pé, mas essa não é a realidade. Para um descanso profundo eles precisam se deitar", explica o professor Neimar.
O estudo foi conduzido com 20 cavalos da raça Puro Sangue Lusitano, na Coudelaria do Castanheiro (Tatuí/SP). Metade dos animais teve o sono REM restringido por 72 horas, enquanto os demais dormiram normalmente. Durante todo o período, os animais foram monitorados 24 horas por dia por câmeras e assistentes.
A análise revelou alterações significativas no desempenho e no comportamento dos animais privados do sono REM. “É a primeira vez que se relaciona, de forma clara e científica, a privação do sono com queda de performance em cavalos de esporte”, destaca o gestor.
O trabalho também traz informações fundamentais sobre os hábitos naturais de sono dos equinos. “Os cavalos dormem em média de 3 a 4 horas por dia, em períodos curtos e fragmentados. O sono REM, crucial para a recuperação neurológica, só acontece quando o cavalo se deita completamente de lado ou com a cabeça encostada ao solo, em decúbito esternal”, acrescenta Neimar.
Além de trazer novos parâmetros para o bem-estar animal, o artigo propõe uma reflexão importante sobre as condições de alojamento dos cavalos em competições e eventos, onde excesso de luz ou ruído pode comprometer o descanso e, consequentemente, o desempenho.
O estudo também envolveu pós-graduandos da USP. Os demais autores do artigo são: Ângela Perrone Barbosa, Fernando Mosquera Jaramillo, Paula Keiko Anadão Tokawa, Raquel Yvonne Arantes Baccarin, Tiago Marcelo Oliveira e Sarah Raphaela Torquato Seidel.
O artigo completo está disponível em: ScienceDirect.