
História de Miguel Mingoni, aluno que retomou os estudos em casa após um AVC, evidencia a importância e os desafios da pedagogia hospitalar
Em 2025, as Secretarias de Educação Estadual e Municipais de São Paulo intensificaram ações voltadas à educação hospitalar, com novos editais e credenciamentos para atuação em classes e programas pedagógicos nos hospitais. As iniciativas reforçam a importância de levar a escola até o leito, garantindo a continuidade dos estudos de crianças e adolescentes em tratamento médico. A exigência de formação específica - como cursos em Pedagogia Hospitalar, Educação Especial ou Psicopedagogia - sinaliza a crescente profissionalização da área.
Apesar dos avanços, especialistas alertam para a ausência de dados públicos consolidados sobre o número de classes hospitalares em funcionamento no Estado, o que evidencia lacunas de transparência e de cobertura.
A pedagogia hospitalar oferece atendimento educacional a estudantes da educação básica em situação de internação ou tratamento prolongado, que precisam se afastar temporariamente da escola. O objetivo é preservar o vínculo com o aprendizado e a rotina escolar, por meio de atividades personalizadas realizadas no leito, em ambulatórios ou em salas pedagógicas dentro dos hospitais.
“O atendimento ajuda a reduzir o impacto da hospitalização no desenvolvimento acadêmico e social das crianças, unindo acolhimento e aprendizagem. Cada plano é adaptado à condição clínica do estudante e às orientações médicas. Em muitos casos, o pedagogo hospitalar também atua como elo entre a família, a escola de origem e a equipe de saúde”, esclarece a coordenadora dos cursos de Pedagogia do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ) e do Centro Universitário Max Planck (UniMAX), professora Lucelaine Zampolim.
Entre as características que distinguem essa prática estão a flexibilidade metodológica - que permite ajustar conteúdos, tempo e formato às condições de saúde de cada aluno - e a abordagem humanizada, que integra o cuidado emocional à aprendizagem. As atividades podem incluir desde jogos e práticas lúdicas até o uso de tecnologias que mantêm o contato remoto com a escola de origem.
Mesmo com avanços recentes, a cobertura do atendimento pedagógico hospitalar ainda é desigual. Muitos serviços dependem de iniciativas locais, convênios ou projetos de extensão universitária. Faltam espaços adequados, materiais pedagógicos adaptados e uma integração mais efetiva entre as redes de saúde e educação.
O tema tem ganhado destaque em pesquisas acadêmicas, cursos de especialização e propostas legislativas, como o Projeto de Lei nº 530/2023, em tramitação na Assembleia Legislativa de São Paulo, que propõe regulamentar a profissão de pedagogo hospitalar. “Esse cenário reforça a importância de transformar iniciativas pontuais em políticas públicas estruturadas, assegurando que nenhuma criança internada fique sem acesso ao direito fundamental à educação”, afirma a coordenadora.
Caso de superação
Em abril de 2023, Miguel Mingoni, então com oito anos, acordou em um domingo sentindo fortes dores no pescoço. Minutos depois, ao entrar no banho a pedido da mãe, Ludimila Mingoni, ele desmaiou. A família correu para o hospital, onde veio o diagnóstico: um AVC hemorrágico. O rompimento de uma artéria venosa no cerebelo provocou um sangramento extenso e exigiu uma cirurgia de alto risco. Miguel passou 44 dias na UTI, alguns deles em coma induzido, intubado, com sonda gástrica e traqueostomia. Ao todo, foram 67 dias de internação até receber alta para continuar o tratamento em casa.
Miguel cursava o 3º ano do Ensino Fundamental de uma escola municipal em Indaiatuba (SP) quando recebeu o diagnóstico. Por quatro meses, de julho a outubro, enquanto realizava sessões de fonoaudiologia e fisioterapia em casa, ele passou a receber atendimento de pedagogia hospitalar para manter o vínculo com a escola e acompanhar as atividades curriculares.
Embora o nome remeta ao ambiente hospitalar, esse tipo de atendimento também pode ocorrer na residência da criança - como foi o caso de Miguel. O suporte pode ser oferecido tanto por um pedagogo do hospital quanto por um profissional designado pelo sistema de ensino, público ou privado, quando o estudante está afastado há mais de 30 dias.
Segundo Ludimila, durante o período em que precisou se afastar da escola, Miguel contou com um forte apoio da instituição. Uma professora passou a ir até a casa da família para acompanhá-lo e garantir que ele não perdesse o conteúdo trabalhado em sala de aula. “Embora tenha sido um período curto, foi fundamental para ele. Sem esse suporte, Miguel não estaria tão bem como está hoje”, afirma.





