Interdependência é o elemento "misterioso" da sustentabilidade
por Renato Vianna Marvulo
Professor da Faculdade Max Planck na área de Gestão Empreendedora
Com a Conferência Mundial do Clima, realizada em Copenhague na Dinamarca no mês de dezembro de 2009 e, neste contexto histórico marcado pela preocupação mundial quanto às mudanças climáticas, um conceito em especial merece atenção, reflexão e, essencialmente, atitude por parte de todos nós: a sustentabilidade.
O conceito de sustentabilidade recebe um sobrenome ambiental na década de 80 e tem sua definição mais utilizada pelo Relatório Brundtland de 1987, conhecido como Nosso Futuro Comum. Diz o relatório que a Sustentabilidade está relacionada com a satisfação das necessidades da geração atual sem comprometer a satisfação das gerações futuras. É uma visão de mundo que atribui a nós a responsabilidade quanto ao estilo de desenvolvimento adotado e suas consequências. Além de questionar nossas escolhas, coloca-nos como responsáveis pelas condições às quais as futuras gerações estarão expostas e farão as suas escolhas. É um modelo de desenvolvimento integrado, interdependente e equilibrado entre seus diversos aspectos: social, econômico, político, ambiental, cultural, entre outros. A sustentabilidade é o “novo” paradigma que está colocado para as nações, empresas, profissionais e cidadãos.
A partir da década de 90 o conceito de sustentabilidade entrou na pauta das discussões nas empresas, e nos dias atuais há uma pressão ainda maior da sociedade em relação aos processos produtivos e seus resultados. É fato que a legislação ambiental contribui significativamente para uma mudança na produção e seus impactos ambientais. De qualquer forma, a tendência desta pressão sobre a produção e sua relação com a sustentabilidade é aumentar nos próximos anos, pois o conceito estará ainda mais presente na vida das pessoas.
A relação de interdependência entre as diversas áreas reflete, e nos próximos anos com ainda mais intensidade, nos profissionais das empresas, não só aqueles que estão ligados às atividades produtivas relacionadas ao desenvolvimento sustentável, mas a todos os profissionais. Pois, a necessidade de integração entre as diversas áreas de uma empresa (financeira, produtiva, de marketing, etc.) e do conhecimento solicita um profissional com uma visão integrada e uma compreensão das relações envolvidas e suas consequências.
Conhecimento sustentável
Há outras questões importantes desta visão. Diante desta nova situação, da necessidade de uma visão do todo, o mercado exigirá dos profissionais características comuns aos empreendedores como: a busca pelo conhecimento como uma atitude educativa continuada. Pautada na necessidade de ampliar sua visão do negócio, o profissional deverá conhecer desde o início da sua atividade aos possíveis impactos (ambientais, sociais, culturais, ou de qualquer outra natureza) que o produto de sua empresa pode causar. Com efeito, o desenvolvimento da sua capacidade criativa e de inovação, de forma a procurar soluções para potencias problemas ou a otimização do uso de recursos na atividade produtiva, trará grande destaque para o profissional.
A partir desta capacidade analítica refinada, o profissional terá uma compreensão do todo e uma visão de longo prazo, possibilitando a ele reconhecer que o processo é algo contínuo, integrado e interdependente e que a sustentabilidade se realizará quando as ações não comprometerem as gerações futuras. A transparência e a ética são atitudes essenciais na formação deste profissional.
O conceito de sustentabilidade estará interiorizado neste profissional do futuro. Saberá que o desenvolvimento econômico está diretamente relacionado com um desenvolvimento social e equilibrado quanto ao uso dos recursos naturais. Terá consciência de que o resultado da atividade produtiva não comprometerá a forma de desenvolvimento das futuras gerações.
(*) Artigo publicado originalmente na edição número 2 do Ágora, jornal do Grupo Polis Educacional
